sábado, 16 de agosto de 2014

A floresta (que é mente) e o monstro (que é belo)

Naquela densa floresta
Havia uma criatura
Não era, indubitavelmente, um monstro
Em verdade era belo
Mas assustava e desesperava
De uma maneira que nenhum outro ser conseguia

Você corria pela floresta
Para longe da criatura
Por entre galhos, saltando raízes
Até o lugar mais profundo
Distante, isolado, escondido e escuro
Nem sinal da criatura
Com alívio, você a esquecia

Feliz em meio ao seu muro arbóreo
Tempos passaram, o ser quase esquecido
Um barulho distante você ouviu
Um arrepio, o medo, as lembranças
A criatura voltou
Te encontrou no seu esconderijo
Transpassou o seu muro
Expôs novamente o seu temor, sua ira
Ressuscitou sua tristeza e sua agonia

Frente a frente e nenhuma palavra
Você não sabe o que dizer
O medo paralisa seus movimentos
O ser não fala uma única sentença
Parada à sua frente, a criatura apenas olha
Te observa, com olhos profundos incertos

"O que você planeja?
Por que não me deixa?
Por que não me quer?"

Nenhuma resposta
A criatura apenas te observa

As lembranças, as dores
A raiva e os pavores
Desenterrados das profundezas da densa floresta
A criatura apenas olha
Nenhum gesto, nenhuma palavra
Apenas faz ser lembrada

E então você corre
Uma nova fuga de esquecimento
No meio das profundezas e da escuridão
Mas você sempre a encontra
As vezes querendo
Outras vezes evitando
Horas é monstro
Horas é belo
Esse ser sempre te encontra

O muro nunca é denso o bastante
Não te impede de encontra-la
Não a impede de te encontrar
A criatura nunca desaparece

E então te perguntam:
"É o que você quer?"
Mas, a resposta, nem você sabe